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O Engenho Sergipe e o açúcar no Recôncavo do século XVISequencia Didática

Atualizado: 28 de mar. de 2022

O Engenho Sergipe e o açúcar no Recôncavo do século XVI

Sequencia Didática

Isadora Maria Lima da Silva – Bolsista PPQ/PROPAAE

Leandro Antônio de Almeida – Orientador

Publicado originalmente no LEHRB em 31/05/2015


Introdução


O engenho era a “máquina” que desenvolvia todo o processo de produção do açúcar e das relações socioculturais do período colonial. Este processo foi iniciado no ano de 1530 com as instalações dos engenhos e expansão da produção açucareira por todo litoral da America Portuguesa. As capitanias de Bahia e Pernambuco apresentavam as condições geográficas mais favoráveis às lavouras da cana de açúcar e para escoamento de uma produção voltada para mercado externo. A América portuguesa dominou o mercado do açúcar até meados do século XVII.


A implantação da atividade açucareira na América portuguesa em grande medida só foi possível graças a exploração de mão de obra escrava. A principio durante o século XVI, a escravidão indígena foi o motor da agroindústria que se desenvolvia, pouco a pouco nos engenhos a mão de obra indígena foi sendo substituída por escravos africanos. Alguns fatores determinaram a gradativa substituição desta mão de obra, a resistência indígena, a crescente demanda do braço escravo, e principalmente a efetiva lucratividade do tráfico negreiro no bojo da expansão comercial.


Além da exploração escrava um engenho de açúcar dependia de trabalhadores livres, os mestres e os artesãos responsáveis pelas etapas mais especializadas do processo de produção do açúcar. Com o tempo os escravos africanos também foram substituindo essa mão de obra mais especializada.


Se nos primeiros séculos da colonização o engenho representava as instalações onde se produzia o açúcar, com o desenvolvimento da atividade açucareira nas terras brasilis o engenho passou a ser o centro de toda organização colonial, regulava as dimensões econômica, sociais e culturais da colônia, o engenho, portanto, passou a denominar além das instalações produtoras, as lavouras, todo conjunto arquitetônico – casa-grande-capela-senzala – e toda cercania de posse dos senhores de engenho.


O Recôncavo Baiano, sempre esteve na condição de grande produtora/exportadora de açúcar da América Portuguesa, ficando atrás apenas de Pernambuco, no entanto após as invasão e dominação holandesa – 1630-1654 -, o Recôncavo passou a ser o centro da produção açucareira da colônia.

AULA 1 – PRODUÇÃO DE GLOSSÁRIO PARA O TEXTO

  1. Entregar com antecedência o texto de divulgação histórica “O mundo entorno do Engenho Sergipe”, disponível em: <http://www3.ufrb.edu.br/lehrb/2015/05/31/mundo-entorno-engenho-sergipe/>

  2. Após leitura e breve introdução do texto, o professor poderá solicitar aos alunos para destacarem palavras referentes ao tema: engenho de açúcar/período colonial.

  3. Solicitar: busca do significado das palavras destacadas.

A pesquisa poderá ser feita com uso do dicionário ou através da internet com ajuda do professor em sala. Como atividade para casa, o professor poderá indicar páginas na internet para a pesquisa. Os alunos podem produzir um glossário para o texto de divulgação histórica “O mundo entorno do Engenho Sergipe”

  1. O professor poderá solicitar aos alunos que comparem o glossário produzido com de um colega e acrescentem palavras se julgarem necessário.

EXEMPLOS DE PALAVRAS QUE SERIAM INTERESSANTES CONSTAREM NO GLOSSÁRIO:

CAPELA; CASA DA FORNALHA; CASA DA MOENDA; CASA DE PURGAR, CASA-GRANDE, MASSAPÊ; SENZALA; SESMARIA.


AULA 2 – A ORIGEM DA SUA CIDADE

Com base no trecho “…as vilas, as paróquias e as cidades do Recôncavo que conhecemos hoje foram formadas a partir dos engenhos. É comum que as igrejas matrizes destas cidades tenham sido originalmente capelas nessas fazendas” do texto de divulgação histórica “O mundo entorno do Engenho Sergipe”, disponível em: <http://www3.ufrb.edu.br/lehrb/2015/05/31/mundo-entorno-engenho-sergipe/>, o professor poderá solicitar aos alunos para pesquisarem a origem de sua cidade.

  1. Seria interessante que o professor fizesse um levantamento prévio sobre material para pesquisa: livros, revistas, documentos; além de páginas na internet, como site das prefeituras, de institutos do açúcar ou museu do engenho.

  2. Após a coleta de dados do material pesquisado, os alunos podem produzir uma narrativa contando a história do engenho e processo de formação da cidade pesquisada.

  3. Os alunos podem inserir imagens refrentes ao engenho e a cidade no texto.

(Caso não haja material suficiente/disponível sobre a cidade em questão, o professor poderá selecionar a história de um engenho e a cidade que deu origem no Recôncavo Baiano para a pesquisa e produção do texto.)


AULA 3 – O TRABALHO NO ENGENHO DE AÇUCAR

  1. Seria interessante o professor fazer breve explanação/discussão sobre as condições de trabalho no engenho de açúcar no período colonial e a lida no corte da cana de açúcar na atualidade.

  2. O professor poderá distribuir para os alunos dois depoimentos sobre as condições de trabalho relacionados a cana de açúcar.

  3. A distinção entre trabalho escravo e trabalho análogo ao de escravo pode ser discutida pelo professor.

SUGESTÕES PARA LEITURA:

CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR: da colônia ao etanol. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8, n. 94, p. 17, jul 2013.

DOCUMENTO 1

E que coisa há na confusão deste mundo mais semelhante ao inferno que qualquer destes vossos engenhos, e tanto mais quanto de maior fábrica? Por isso foi tão bem recebida aquela breve e discreta definição de quem chamou a um engenho de açúcar doce inferno. (…) aquelas fornalhas tremendas perpetuamente ardentes; as labaredas que estão saindo a borbotões de cada uma, pelas duas bocas ou ventas por onde respiram o incêndio; os etíopes ou ciclopes banhados em suor, tão negros como robustos, que soministram a grossa e dura matéria ao fogo, e os forcados com que o revolvem e atiçam; as caldeiras, ou lagos ferventes (…)da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo, sem momento de tréguas nem de descanso; quem vir, enfim, toda a máquina e aparato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança de inferno”(Padre Antonio Vieira, em Sermão de 1633)


DOCUMENTO 2

“Ao descer do carro, senti a terra queimando sob os meus pés. O relógio marcava 14h37min. A temperatura ambiente era de 38°C, mas aparentava ser muito maior. No chão, lascas de cana queimadas eram cortadas por três trabalhadores. Eles estavam cortando cana desde as 5 horas da manhã. “Não param para o almoço?”, pergunto. “Ganhamos por produção, então é melhor seguir trabalhando direto até as 16h. Depois descansamos e amanhã começamos novamente.”

O período de trabalho varia de 8 a 12 horas diárias. No sistema de ganho por produção, têm que cortar cerca de 15 toneladas por dia para ganhar R$ 80,00 de diária. As mortes por exaustão são comuns. Os que trabalham no processo de fumigação são expostos ao glifosato, uma molécula química altamente tóxica presente nos herbicidas já associada ao surgimento de câncer, redução de fertilidade e alterações no feto. São muitos os que adoecem de problemas respiratórios, musculares, lesões nas articulações.

O Recôncavo parou no tempo. Para o bem e para o mal. Se, por um lado, estão preservadas as casas históricas, por outro a metodologia de trabalho é similar à do período em que milhares de negros eram trazidos da África para trabalhos forçados nas terras da nova colônia portuguesa. Os trabalhadores que acabo de conhecer são descendentes desses escravos. Na região há muitas comunidades quilombolas – escravos que fugiram do engenho da cana-de-açúcar. E as oportunidades de trabalho que encontram continuam sendo as mesmas daquele tempo.” (trecho de: “Ainda a escravidão” Marcio Pimentel. DISPONIVEL EM:http://apublica.org/2015/03/12-anos-de-escravidao/)


SUGESTÃO DE ATIVIDADE:

  1. Compare os depoimentos dos textos e responda:

  2. a) Você acha que as condições de trabalho em um engenho de açúcar no período colonial e o trabalho do corte de cana na atualidade mudou?

  3. b) Aponte semelhanças e diferenças na lida da cana no período colonial e hoje.


AULAS 4 e 5 – COMUNIDADES QUILOMBOLAS

Os trabalhadores africanos escravizados que fugiam dos canaviais formavam comunidades e muitas delas existem até hoje. As comunidades quilombolas são grupos étnicos constituídos pela população negra rural ou urbana que se definem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias, patrimônio inestimável à cultura afro-brasileira.

Fonte: BRASIL, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. “Etapas da regularização quilombolas”. Brasília: INCRA. Disponível em: http://www.incra.gov.br/estrutura-fundiaria/quilombolas

1 No primeiro momento sugerimos a apresentação dos vídeos:

a) Documentário: MARIA do Paraguaçu. Direção: DUTERVIL, Camila. 26’’. Disponivel em: <http://vimeo.com/52074306>. Acesso: Setembro de 2014.

b) Reportagem no Jornal Nacional sobre Processo de Reconhecimento do Território Quilombola São Francisco do Paraguaçu. – Cachoeira. 6’8’’ Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_vEcbpMQeAU. Acesso em: Setembro, 2014.

Em seguida sugerimos que o professor aborde os dados quanto a produção das mídias: Quem os produziu, data da produção e o tema.


SUGESTÃO DE ATIVIDADE: DEBATE

Com o objetivo de que os estudantes relacionem o conteúdo da aula com as mídias apresentadas, sugerimos que o professor abra a discussão para debate.

  1. Para iniciar o debate o professor poderá apresentar regras para a dinâmica:

a)Dividir os alunos em grupos

b)Determinar o tempo de fala de cada grupo

  1. O professor poderá distribuir previamente para os grupos um roteiro com questões a serem debatidas.

  2. Ao final do debate o professor poderá fazer considerações finais sobre o tema e pontos levantados pelos alunos que necessitem de esclarecimentos.

SUGESTÃO DE ROTEIRO PARA O DEBATE:

  • Processo de “cercamento” do território de São Francisco do Paraguaçu

  • A importância do reconhecimento das comunidades quilombolas

  • Defesa da propriedade privada/repressão e violência do Estado

  • Os interesses políticos e imobiliários acerca das terras do São Francisco Paraguaçu (projetos turísticos, fazendeiros, polo naval

SUGESTÃO DE LEITURA:

DUTERVIL, Camila. São Francisco do Paraguaçu Território Ameaçado! Disponível em: http://www.justicaambiental.org.br/v2/admin/anexos/acervo/17_070514_nota_antropologa_sobre_globo_sfparaguacu.pdf.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Esterzilda Berenstein. Engenhos do Recôncavo Baiano. – Brasília, Iphan / Programa Monumenta, 2009.

CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR: da colônia ao etanol. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8, n. 94, p. 17, jul 2013.

RISÉRIO, Antonio. Uma história da Cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal, 2004.

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo: Companhia Das Letras, 1985.




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