ESTUDOS SOBRE A INQUISIÇÃO PORTUGUESA NA BAHIA: ATUAÇÕES, PROTAGONISTAS E EXPERIÊNCIAS HISTÓRICAS
Período: 20 de novembro a 18 de dezembro de 2023
Evento online, transmitido pela TV UFRB
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Programação
20.11.2023 – 19h00 – 23h00
O Cristianismo e a invenção da tradição: mecanismos de controle dos papéis sociais e o consequente apagamento social dos femininos
Sulamita Pinto Lima – UFBA
Moderadora: Natalia Urra Jaque – Universidad Andrés Bello (Chile)
Link para a transmissão: https://www.youtube.com/watch?v=-hDudw97tdw
27.11.2023 – 19h00 – 23h00
Descolonizando a História: Igreja católica e Inquisição portuguesa: Estudos de Gêneros e relações de poder
Joseane Pereira de Souza – UFBA
Moderadora: Elisangela Ferreira – UNEB
Link para a transmissão: https://www.youtube.com/watch?v=RZqgprLEC-k
04.12.2023 – 19h00 – 23h00
Normas matrimoniais tridentinas: a configuração da bigamia e a perseguição do Santo Ofício
Thiago Souza e Melo – UFBA
Moderadora: Ana Margarida Santos Pereira – UFAL
11.12.2023 – 19h00 – 23h00
Saberes de resistência entre lutas, escritas e afetos: os povos indígenas na pesquisa histórica da Bahia
Jamille Macedo Oliveira Santos – UFBA
Moderador: André de Almeida Rego – UFRB
18.12.2023 – 19h00 – 23h00
Da promoção à exclusão social: familiaturas recusadas pelo tribunal do Santo Ofício na Vila de Cachoeira (Bahia, séculos XVII-XVIII)
Felipe dos Santos – UNEB
Moderador: Luiz Fernando R. Lopes – IFB
Resumos
O Cristianismo e a invenção da tradição: mecanismos de controle dos papéis sociais e o consequente apagamento social dos femininos
Sulamita Pinto Lima
Programa de pós-graduação em História social pela Universidade Federal da Bahia – PPGH.
Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)
A conferência pretende discutir como o mundo ocidental inventou e/ou transformou tradições (para si e para outros) e como elas, as tradições, foram criadas e utilizadas para pôr a margem, tudo aquilo, que fosse de encontro com a lógica de sociedades ocidentais, como: valores políticos, culturais, econômicos e sociais. Para tanto, utilizarei conceitos de tradição tendo em vista que, entendo o processo da invenção de tradições como um vetor que colaborou com o sucesso do colonialismo, uma vez que, ajudou – e ainda ajuda – a modelar – e ainda modela – e manipular – e ainda manipula – comportamentos sociais. Apoiada nas contribuições de tradição e invenção da tradição de Terence Ranger e Eric Hobsbawm. Farei o exercício de pensar como o Tribunal da Santa Inquisição utilizou-se, de rituais e símbolos para legitimar-se enquanto instituição punitiva e como esta atuação reverberou, principalmente, no controle dos corpos femininos. É bom lembrar que o presente artigo será apresentado como atividade final da disciplina África: paradigmas do colonialismo e estratégias africanas e, mais tarde, integrará uma seção do exame de qualificação. Desse modo, não se assuste caso levante questões que não tenha tempo para responder aqui.
Descolonizando a História: Igreja católica e Inquisição portuguesa: Estudos de Gêneros e relações de poder
Joseane Pereira de Souza
Doutoranda em História Social – Universidade Federal da Bahia
Resumo: No contexto da Reforma católica, a Inquisição Portuguesa foi um dos mecanismos de imposição do catolicismo como religião oficial na metrópole e nas colônias. As terras do Brasil estavam sob a alçada do Tribunal de Lisboa, que formou uma rede de oficiais encarregados de manter o controle da fé e reportar os casos de heresias e atitudes consideradas imorais para Lisboa, já que no Brasil não houve a instalação de um Tribunal. Os Estudos de Gêneros nos permitem entender como as instituições incorporam os gêneros nos seus pressupostos e nas suas organizações sociais determinando papéis aos diversos sujeitos do processo histórico. Assim sendo, utilizaremos documentos produzidos pela Igreja católica e pela Inquisição para refletirmos como essas duas instituições foram produtoras de estereótipos de gêneros. Nessas fontes percebemos as imposições de saberes e costumes europeus, cristãos e patriarcais sobre as práticas que se afastassem deles, determinados como únicos aceitos. Nesse sentido, buscar-se- a aqui entender os mecanismos de ações do Tribunal da Inquisição portuguesa, enquanto aliado do catolicismo na tentativa de manter-se como religião hegemônica; compreender a construção dos mecanismos e dispositivos de gêneros nas relações de poder por meio dessas instituições; refletir e explorar as possibilidades da utilização das fontes eclesiásticas e inquisitoriais para os Estudos de Gêneros e escrita da História numa perspectiva decolonial. A decolonialidade caminha na perspectiva de problematizar a colonização intelectual que nos foi imposta juntamente com o processode colonização dos territórios. Pensadores decoloniais, como Anibal Quijano, traz como conceito central a “colonialidade do poder”. Tendo como objetivo problematizar a matriz eurocêntricaque constitui o nosso modo de pensar a temporalidade histórica e redefinir uma abertura a novas análises que possam aglutinar maneiras diversasde pensar e experienciar o tempo e as formas de vida. Assim, pensamos que há uma colonialidade do poder queinstituiu uma maneiraparticular de pensar a temporalidade europeia, como padrãouniversal e natural, desconsiderando outras formas de povos e culturas e o Tribunal da Inquisição portuguesa foi um elemento desse processo.
Saberes de resistência entre lutas, escritas e afetos: os povos indígenas na pesquisa histórica da Bahia
Jamille Macedo
Proponho nessa palestra caminhar pela trajetória dos povos indígenas na Bahia, a partir de um panorama das pesquisas produzidas pelo PGH-UFBA, sobretudo aquelas que envolvem a resistência. E pensar as tessituras que têm sido feitas tendo em vista a escrita da História Indígena na Bahia, suas transformações, métodos, problemas e abordagens. Bem como as potencialidades que temos no horizonte ao lançamos mão de uma perspectiva êmica, dialogando com as formas pelas quais os indígenas narram sua própria história e como mobilizam e elaboram regimes de historicidade e de compressão do tempo, do mundo, da natureza, dos eventos históricos e “míticos” e das suas espiritualidades, entre outros. Nesse panorama, irei trazer a tona um pouco das pesquisas que desenvolvi nos últimos anos que envolvem as resistências indígenas no período colonial, particularmente através das Santidades, e a pesquisa atual que tenho me dedicado que abrange a própria escrita da História indígena, por meio e através de outras epistemes e regimes de historicidade não ocidentais.
Normas matrimoniais tridentinas: a configuração da bigamia e a perseguição do Santo Ofício
Thiago Souza e Melo
Doutorando em História Social – Universidade Federal da Bahia
O Concílio de Trento teve como seu principal objetivo ser um evento reformador, com o intuito de (re)estabelecer a ortodoxia católica, da qual os fiéis e o clérigos estavam desviados. Para isso, os debates buscavam estabelecer diretrizes e reafirmar dogmas e sacramentos. É no bojo dessas normatizações que o matrimônio vai ocupar um espaço de grande preocupação e debate na configuração de seu ritual litúrgico, entrando para o rol dos sacramentos. A partir de então passa a ser definido, na sessão XXIV do concilio tridentino, como monogâmico e indissolúvel, em que a sexualidade permitida tinha o único propósito da procriação. Nesse sentido, a normatização tinha um discurso que aparentemente colocava os consortes em situação igualitária, no entanto, não deixou de estabelecer pontos em que as assimetrias e hierarquia de gênero sobressai, colocando a mulher em posição de inferioridade sob a tutela do esposo. As normas tridentinas trouxeram, em sua sessão que regulamenta o matrimônio, as diretrizes do ritual, elaborando meios de evitar a realização de uniões dentro do que era considerado pela Igreja enquanto impeditivos, como no caso do duplo matrimônio que configurava a bigamia. Na ótica inquisitorial, quem ousava casar mais de uma vez na forma tridentina era percebido como “suspeito na fé” e deveria sofrer um processo por “sentir mal do sacramento do matrimônio”. Nesse caso, a bigamia era vista como de uma possível heresia, por ser entendida como um atentado consciente a um sacramento que prezava pela indissolubilidade da união monogâmica.
Da promoção à exclusão social: familiaturas recusadas pelo tribunal do Santo Ofício na Vila de Cachoeira (Bahia, séculos XVII-XVIII)
Felipe dos Santos
Esta comunicação objetiva analisar dentre os moradores da Vila de Cachoeira (Recôncavo baiano), entre os anos de 1681 a 1750, os pleiteantes a título de familiar do Santo Ofício e outros cargos da Inquisição portuguesa, mas que foram recusados por não se enquadrarem às normas da instituição. Por meio dos processos de Habilitação de Gênere, verificamos as implicações deste insucesso nas dinâmicas de mobilidade social local, analisando a importância simbólica do que significava ser um agente inquisitorial na América portuguesa. Buscamos compreender a processualística da habilitação ao cargo inquisitorial, para apreender os procedimentos que levavam a Inquisição a desenvolver uma espécie de política de recusa às denominadas raças infectas. Este estudo, portanto, pretende lançar luz sobre os grupos oficialmente recusados pela Inquisição: cristãos-novos, mouros, negros, ameríndios e mulatos. Além de tratar dos grupos sociais sobre os quais recaía a política de limpeza de sangue, abordamos os indeferimentos relacionados a comportamentos indevidos, incapacidades, informações processuais insuficientes, possuir pouco cabedal para o exercício da função e, em alguns casos, a jovialidade do pleiteante também pesava na recusa. A investigação também objetiva perfilar socialmente os indivíduos recusados para a Vila de Cachoeira e os seus destinos, analisando como o indeferimento da familiatura refletia nesta sociedade colonial altamente hierarquizada e alicerçada no mito da pureza de sangue.
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