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Seminários na educação: do preparo à exposição

Atualizado: 17 de fev. de 2021


Seminários na educação: do preparo à exposição

Leandro Antonio de Almeida


Publicado originalmente no LEHRB-UFRB

20/05/2013


É comum nas escolas da educação básica e no ensino superior os professores utilizarem como metodologia de aula ou avaliação as apresentações orais de tema pelos alunos, comumente conhecidas como "seminário". Essa é uma forma interessante de trabalho porque enfatiza o protagonismo na construção e compartilhamento do conhecimento estudado.


Porém, essa costuma ser uma atividade odiada pelos alunos, porque devem (se) expor diante da turma e assistir apresentações mal preparadas dos colegas extremamente nervosos. Além disso, os mais maldosos costumam dizer, às vezes com razão, que são uma forma de o professor não dar aulas.


Esses problemas ocorrem porque, ao contrário do que se imagina, é necessário preparo do professor e do estudante para os seminários atingirem seus fins pedagógicos. Seu objetivo é avaliar a exposição para um público de um tema previamente preparado. Portanto, além do conteúdo, a avaliação precisa contemplar a capacidade de apresentação oral.


O trabalho com seminário envolve pelo menos duas etapas: a preparação e a exposição. Se o professor desejar, pode inserir etapas subsequentes ou variações, como debates, perguntas, intervenções etc., criando interação com o público e diversificando as avaliações da apresentação para contemplar, por exemplo, a capacidade de argumentação e defesa de um ponto de vista.



Preparação


A preparação é fundamental porque não basta apenas a pesquisa de informações. O assunto precisa ser apreendido através de sínteses, paráfrases e articulação dos textos pesquisados. Só há uma maneira de evitar as enfadonhas leituras orais de trechos anotados em folha de papel: conhecimento do que se fala. Quanto maior o conhecimento, maior a sensação de segurança, que gera maior desenvoltura no momento da exposição.


Um ponto em comum com a monografia escrita, para que não tem prática, é dividir a exposição em três partes: introdução (apresentação do tema, objetivos, justificativa e os passos da palestra), desenvolvimento (dos tópicos, argumentos, casos, exemplos etc), conclusão (síntese do que foi apresentado, com possível problematização). O estudante precisa entender a lógica dessa divisão para que ela se torne operacional e ele possa seguir essa divisão na preparação do seminário. O tema ou argumento precisa ser apresentado sumariamente, aprofundado e, depois disso, sintetizado para enunciar a mensagem a ser deixada. Essa estrutura pode ser subvertida pois é uma das formas possíveis de se apresentar um assunto.


Porém, uma exposição oral não é uma monografia ou dissertação escrita. Logo, sua preparação e apresentação obedece a critérios distintos. Um aspecto importante da comunicação oral é que o controle da situação está no emissor, não no ouvinte, porque o suporte da informação é evanescente e não fixo, como na escrita. Por isso, nessa comunicação, as frases costumam ser coordenadas e não subordinadas, com formas de remissão ou repetição, além de técnicas de ganchos para apreensão de informações, sendo a rima a mais comum.


A implicação prática disso é a não recomendação de se preparar apresentações com base em textos escritos ou, quando forem imprescindíveis, que eles estejam próximos da linguagem oral. Os texto devem ser utilizados como itens de estudo para compor a exposição, e não ser o suporte dela. Além disso, é preciso prever um ritmo adequado da exposição, visto que o público não poderá voltar caso tenha perdido uma informação. Daí que o roteiro da fala apresentado no início, o uso de repetições, retomadas das ideias expostas e sínteses parciais ajudam a situar o ouvinte na palestra.


Outro aspecto problemático da preparação e da apresentação é o tempo. Dificilmente se pode falar o quanto se quer, pois normalmente os seminários ou comunicações possuem uma duração pré-estabelecida. Portanto, o desafio é adequar o assunto, as formas e recursos de fala, e o tempo. O recurso que pode ajudar na tarefa é montar uma tabela hierarquizando a apresentação. Na coluna da esquerda pode ser colocado o que é imprescindível falar, o roteiro central. Os subtemas, argumentos ou ideias derivadas podem ser colocados na coluna do meio. Na coluna da direita, os dados, exemplos, frases, casos, piadas e todos aqueles recursos de ilustração ou aprofundamento.


Então, tem-se um mapa da palestra a nos guiar pelo tempo, contendo aquilo que é imprescindível dizer, o que pode ser sintetizado e o que pode ser suprimido caso o tempo se torne escasso ou em situações que fujam ao planejamento. Afinal, nada mais deselegante que ouvir uma hora de uma fala estabelecida em 3o minutos como, pior ainda, se houver outras depois dela, como é comum nos seminários escolares e também em mesas redondas ou sessões de comunicação nos eventos acadêmicos.


Também ajuda a diminuir a sensação de insegurança a orientação prévia dos seminários pelo professor. Alguns minutos finais da aula, para tirar dúvidas, ou pequeno ensaio para eles falarem o que sabem do assunto podem melhorar o desempenho, ajudando na correção de rota e aumentando a confiança. Se o trabalho for em equipe, essa etapa do ensaio pode ser feita entre os próprios alunos, que podem apontar os problemas na exposição do colega além de ajudar no controle do tempo.



Exposição


No caso da exposição propriamente dita, ela também precisa ser ensinada. Como se portar diante do público? Como usar slides ou suportes de texto? O que o tom de voz e os gestos comunicam? Qual a importância do contato visual? Etc. Etc. Sobre esse assunto, há centenas de livros com título "técnicas de comunicação", "oratória", ou algo parecido. Costumam ser formulares, mas há dicas que podem ajudar.


Numa comunicação oral, o contato visual é de extrema importância. É através do direcionamento do olhar que estabelecemos o primeiro contato com o público, passando a impressão que estamos sendo verdadeiros e lhe dando atenção. Tanto é que, na hora do nervosismo, é muito comum o estudante, mesmo universitário, olhar apenas para o lado onde o professor está sentado, esquecendo que fala para a sala e não para aquele todo poderoso que vai lhe dar a nota. Variantes desse problema é olhar para o teto ou para o chão, o que é igualmente comprometedor. A melhor forma de contemplar a todos é passear o olhar, no nível acima de suas cabeças, direcionando-o por alguns momentos para diversos setores da plateia.


A voz também é extremamente importante porque é o instrumento primordial pela qual a comunicação se estabelece. Não há uma fórmula, apenas observações. É importante que, numa sala de aula, a altura esteja adequada, isto é, que todos no fundo possam escutá-la com clareza. Cabe ao organizador, no caso o professor, verificar se há a necessidade de instrumentos como microfones, sobretudo em espaços mais amplos como auditórios. Para aquelas pessoas que tem uma voz baixa mesmo para espaços pequenos, o ideal é procurar um profissional de fonoaudiologia que pode dar orientações mais balizadas.


Além disso, o ritmo da fala precisa ser adequado. Em momentos de nervosismo, além da voz trêmula, é comum uma fala acelerada que literalmente "devora" as palavras ou comprometa a apreensão das ideias, ou lenta a tal ponto de cansar e causar sono ao ouvinte. Uma forma de detectar esses problemas é comparar o ritmo da apresentação com a fala do apresentador em situação de conversa. Aliás, se há um parâmetro bom para medir uma apresentação é o quanto ela se assemelha à forma natural da oralidade. As melhores são aquelas nas quais o apresentador parece se comunicar não de uma tribuna, mas do sofá de sua casa ou, para os mais boêmios, de uma mesa de bar. A regra não vale para situações ou ocasiões nos quais o tom solene é exigido.


No seminário, a comunicação é feita por inteiro, e isso inclui o nosso corpo. Apesar de esse aspecto ser bastante subjetivo, alguns gestos costumam denunciar nervosismo, entre os quais colocar a mão para trás, ou no bolso, segurar as mãos ou se apoiar firmemente em um objeto, tremedeiras, entre outros. Essas "muletas" podem também estar presentes na voz, através de cacoetes repetidos como "né", que as pessoas inseguras usam para captar a atenção do ouvinte. Novamente, todas essas muletas costumam estar ausentes na forma natural da comunicação oral.


Na época da popularização do "datashow", é comum o uso de slides como suporte da fala, principalmente porque ajudam o expositor a se guiar e estruturar sua comunicação. Porém, esse aspecto é secundário. O slide ou qualquer outro suporte de informação deve ser um recurso de auxílio do público, não uma muleta para quem fala. Afinal, o pressuposto é que se alguém se dispõe a apresentar um tema - ou é requisitado, no caso dos seminários escolares - é porque o estudou e o preparou, logo sabe do que está falando.

Portanto, a "leitura" de slides ou, pior, a suspensão da fala quando o equipamento não funciona tem o efeito de ser, no mínimo, um sinal de despreparo, quando não de ignorância sobre o tema. Daí porque é preciso ter alternativas ao uso de suportes como slides, sendo recomendável que o estudante, além de saber o roteiro do que vai falar, mantenha anotados em meios não eletrônicos os dados (não a fala) que precisa expor.


Além disso, vale o que dissemos sobre a voz: é preciso que se tome cuidado com a exposição dos slides. Costumam prejudicar a visualização a utilização de letras muito pequenas ou ausência de contraste, sobretudo quando se usa imagens ou cores de fundo. Uma forma fácil de detectar esses problemas é projetar o conteúdo na tela e ir ao fundo da sala ou auditório, de preferência junto com alguém, para conferir a visualização.







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